Tag Archives: Reabilitação

LIVRO “MANUAL DE MANUTENÇÃO EM EDIFICAÇÕES”

Eng.º Vitorino Neves (Sal e Neve Engenharia) em colaboração com o Instituto Superior Técnico de Lisboa e algumas instituições do Brasil, é co-autor do livro “Manual de manutenção em edificações”

“O presente livro é resultado da firme parceria técnica luso-brasileira entre os coordenadores, a Fundec (Associação para a Formação e o Desenvolvimento em Engenharia Civil e Arquitectura), o IST (Instituto Superior Técnico de Lisboa), o Instituto de Engenharia e o Inbec (Instituto Brasileiro de Educação Continuada), que desde 2015 estão a realizar eventos em prol do desenvolvimento da Engenharia Diagnóstica, com foco principal nas investigações técnicas dos principais problemas das edificações e demais obras de Engenharia Civil. Tal parceria já possibilitou a realização de três eventos conjuntos, o primeiro na Fundec, em Lisboa (2016), e outros dois no Brasil, um em Santos (2017), e outro em Fortaleza (2019).

Além dos eventos conjuntos também já houve a participação de professores portugueses do IST, Inês Flores-Colen e João Gomes Ferreira, na segunda edição do livro Manual de Engenharia Diagnóstica, editado pela LEUD em 2021, comprovando a união de esforços luso-brasileiros, no engrandecimento dos estudos avançados de Engenharia Civil, o que agora fica consolidado e consagrado neste livro.

Essa parceria, nos diversos eventos e várias interações, evidenciou que o grande fator de destaque na investigação das edificações, sem qualquer dúvida, é a manutenção. Os problemas decorrentes de eventuais anomalias de projeto, materiais ou execução, ordinariamente, se manifestam no início da utilização das edificações, e são tratadas e reparadas ainda na fase de garantia. No entanto, as falhas de manutenção, ou mesmo a sua precariedade e ausência, vão se acumulando e causam sérios problemas técnicos, sem embargo de graves acidentes, como temos constatado em incêndios, desabamentos de prédios e pontes, além de outras ocorrências, muitas com perdas humanas significativas. A deficiente ou falta de manutenção mata gente e causa prejuízos imensos. Essa realidade precisa ser enfrentada com objetividade, técnica e legal, inclusive no foco de nova legislação.

Este manual tem o foco técnico, mas o alerta da necessidade de um olhar jurídico para a questão foi lançado à reflexão da sociedade, nos prefácios e até mesmo nos diversos capítulos, o que é um importante alerta e uma inovação muito bem-vinda, em prol da segurança e da preservação da vida.

Os autores são especialistas na investigação técnica e em procedimentos da manutenção de edificações e obras civis, os conteúdos são os mais destacados nesta área, sem embargo da possibilidade de outros livros complementares, pois o tema não se esgota por aqui.

A liberdade de expressão foi respeitada ao máximo, inclusive quanto ao vernáculo, pois as ortografias e termos regionais, quer do Brasil, quer de Portugal, ficaram ao critério dos autores, o que só engrandece a parceria e os estudos técnicos, pois induz os leitores a uma aprendizagem dos nossos lindos regionalismos linguísticos, sem qualquer prejuízo ao pleno entendimento dos conteúdos literários.

É um livro inédito, de enorme valor técnico e que vem engrandecer a Engenharia dos países irmãos, não podendo faltar na biblioteca dos estudiosos do tema da Manutenção, e também aos peritos e juristas interessados na qualidade e segurança de nossas edificações e obras públicas.

Cabe, finalmente, um agradecimento especial aos coordenadores do livro, engenheiros Tito Lívio Ferreira Gomide, Inês Flores-Colen e Stella Marys Della Flora pela dedicação e imenso esforço que possibilitou a realização desta marcante e relevante edição técnica.”

 

VI(SEU) UMA CIDADE A OLHAR PARA A REABILITAÇÃO DO PATRIMÓNIO EDIFICADO

VI(SEU) UMA CIDADE A OLHAR PARA A REABILITAÇÃO DO PATRIMÓNIO EDIFICADO

Sábado, cidade de Viseu, centro histórico, dia cinzento com frio, transeuntes com olhares intrigantes, expressando que algo estaria diferente naquele dia. E não era efectivamente um dia qualquer para a cidade e para os seus habitantes. O deslumbrante centro histórico de Viseu, engalanou-se para receber mais de uma centena de técnicos, vindos de diversos pontos do país, num evento organizado pelo programa “Viseu Património” apelidado de “Freeze Viseu – Um dia para conhecer e preservar” liderado pelo Prof. Dr. José Raimundo Mendes da Silva, personalidade marcante nos trabalhos de excelência elaborados no âmbito do património edificado e de reconhecido valor no seio da docência universitária. Só o nome do evento já fazia prever uma caminhada gélida para os corpos, mas nas mentes surgia a ideia de conservação (a gelo) efectuando um paralelismo instantâneo a uma outra conservação, a dos edifícios.

Deambulando pelas ruas deste centro, diversos grupos pluridisciplinares nos ramos da engenharia, arquitectura e outras áreas ligadas ao património, organizando os primeiros preenchimentos de tabelas de registo técnico e acarretando as suas máquinas fotográficas, foram-se preparando para efectuarem uma “radiografia” aos edifícios, não só através de uma caracterização preliminar da imagem global da tipologia e do estado de conservação dos edifícios, mas também através de um “olhar” fotográfico.

Para espanto de muitos, encontrou-se um centro histórico totalmente “vivo”, onde habitantes, comerciantes e até turistas, interagiram e quiseram acrescentar mais algum valor com as suas ideias, suas memórias e conhecimentos, abrindo gentilmente as portas de suas casas para que se pudessem visualizar melhor determinadas características. Simplesmente simpatia, globalmente reconhecida das gentes da Beira? Ou uma mentalidade já consciente de que conservação e reabilitação do património edificado é um trabalho efectuado com a população e para a população?

Transpondo um olhar mais atento a todo espaço circundante por onde se ia passando, verificavam-se diversas marcas históricas, sociais e culturais, “embriagando” os técnicos com as geometrias, cores e texturas muitas vezes resultantes de contrastes causados pela contemporaneidade.

Os olhares, que diariamente são desviados como que por uma necessidade social, focados naquelas lojas de decoração e artigos artesanais, nas pastelarias, ou nas roupas que dão vida aos manequins expostos nas vitrinas, focaram-se, desta vez, nas coberturas e nos elementos das fachadas. Em malabarismos entre muros e socalcos, para conseguir as melhores fotografias, ia-se discutindo sobre os tipos de telhas utilizadas, se continham ou não musgos, líquenes ou bolores e se a orientação geográfica influenciava diversas patologias que eram visíveis. Os grupos envolviam-se em discussões técnicas, sob o olhar atento dos habitantes e da imprensa, sendo este o cenário que predominou ao longo do dia. Existindo uma abstracção de partes mais técnicas, como por exemplo, pensar no retrato estrutural do edifício e tentar compreender o seu dimensionamento e sua execução (feita na altura de forma mais ou menos empírica) ou pensar em todas as patologias que estão presentes em vários elementos do edifício, essencialmente, pôde-se “respirar” património, com uma diversidade de materiais, com extrema importância cultural, que a cidade de Viseu herdou.

O dia ficou ainda marcado pelas visitas ao interior de dois edifícios (Rua Direita nº 194 e Rua. Dr. Luís Ferreira, nº94) onde mais uma vez se sentiu o cunho patrimonial, visualizando-se paredes em tabiques com pormenores bastante singulares, pisos, revestimentos, partes estruturais que conduziram a mais discussões técnicas, fazendo-nos sentir que ficaríamos ali tempos indeterminados para absorver tudo o que nos rodeava.

O leitor, se ainda não fez este exercício, poderá certamente passear pelo centro histórico de Viseu e enquanto disfruta de uma paisagem deslumbrante, poderá simultaneamente observar, com um olhar mais atento, o edificado presente. Será a traça toda idêntica? Os diversos tipos de vãos dar-nos-ão algumas indicações? Qual a configuração das varandas e que materiais são utilizados? Qual é o revestimento das fachadas? Vale a pena só observar, ou também tocar? Ao verificar zonas em destaque, visualizam-se cores diferentes das argamassas utilizadas no suporte, o que significará? E as esculturas e frontões (peças que decoram a parte superior das portas e janelas, ou que coroa a entrada principal de um edifício) o que transmitem?

Os Visienses deverão estar orgulhosos do seu município pela realização deste evento, o qual permitiu obter, no final do dia, dados de aproximadamente 500 edifícios, que servirão no futuro para estudos tecnicamente mais apurados.

Sábado, cidade de Viseu, centro histórico, final de tarde com frio, transeuntes com olhares de esperança, vi uma cidade a olhar para a reabilitação do património edificado.

Ver Artigo

Artigo publicado no Jornal “Diário de Viseu


VITORINO NEVES

ENG.º CIVIL

Especialização em reabilitação de edifícios pela Universidade de Coimbra

VIVER MELHOR COM A RIA(BILITAÇÃO) DE AVEIRO

“VIVER MELHOR COM A RIA(BILITAÇÃO) DE AVEIRO”

Em Aveiro, à semelhança do que acontece nas restantes sociedades contemporâneas, os utilizadores dos edifícios esperam, de uma forma generalizada, padrões elevados para os mesmos no que respeita à durabilidade e à resistência aos agentes de deterioração e simultaneamente, conforto térmico, acústico, de iluminação natural e de ventilação. Para tal, é expectável que elementos como fachadas, paredes exteriores, varandas, coberturas e caixilharias resistam aos referidos agentes, sejam arquitetonicamente agradáveis e que, ao mesmo tempo, sirvam de isolamento, criando uma imagem de equilíbrio.

Resultado de alguma experiência que venho obtendo nos últimos anos nesta região, constato que mesmo os edifícios recentemente construídos não apresentam a qualidade desejada, havendo alguns com patologias consideradas graves que condicionam a sua utilização. Esta falta de qualidade deve-se sobretudo à complexidade dos elementos durante a construção, à rapidez exigida, ao desconhecimento da aplicação de alguns materiais, à falta de garantia dos mesmos e à inexistência de um especialista na equipa durante o processo de trabalho.

Nesta região, os edifícios recentes vivem de “mãos dadas” com os edifícios antigos (construídos antes do betão armado se tornar no material estrutural dominante, o que ocorreu na segunda metade do século XX), havendo, entre estes, muitos com os princípios estéticos adoptados pela Arte Nova, onde existe uma forte ligação entre painéis de azulejo, elementos em ferro forjado, de pedra e de vidro, levando a cidade de Aveiro a ser considerada cidade-museu da Arte Nova em Portugal.

Durante décadas, não se deu a devida atenção à calamitosa degradação do edificado e, nos últimos anos, o tema “Reabilitação” tem merecido especial destaque no seio dos diferentes quadrantes da sociedade. Cada vez mais se assiste a uma crescente preocupação dos cidadãos e de algumas instituições pela reabilitação do património edificado.

O leitor, deduzindo que as técnicas e materiais utilizados na construção dos diferentes tipos de edifícios são totalmente distintos, certamente perguntar-se-á: As patologias diagnosticadas serão idênticas em todos os edifícios? A estratégia de intervenção será a mesma em casos diferentes? É importante um projecto de reabilitação? Existem melhores resultados finais nas obras de reabilitação se as mesmas forem sujeitas a fiscalização? Será necessário recorrer a técnicos especializados no âmbito da reabilitação do edificado?

Neste momento de fragilização económica que o país atravessa, surge paralelamente a ponderação da realização de manutenção e, devido à complexidade quer do processo de manutenção, quer do processo da reabilitação dos edifícios, acumulado com o facto de estarem no mercado agentes e equipas tecnicamente não especializadas, torna-se pertinente reflectirmos sobre quais as necessidades/expectativas em relação à reabilitação e/ou manutenção dos nossos edifícios e que nível de satisfação teremos no futuro.

Essa reflexão certamente que nos fará viver melhor com a ria e com a reabilitação de Aveiro.

“…torna-se pertinente reflectirmos sobre quais as necessidades/expectativas em relação à reabilitação e/ou manutenção dos nossos edifícios e que nível de satisfação teremos no futuro.”

Ver artigo

Artigo publicado no Jornal “Diário de Aveiro